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Tuberculose: Principal causa de morte por doença infeciosa

tuberculose

A tuberculose é uma das doenças infeciosas mais antigas e continua a representar um desafio significativo para a saúde pública em várias partes do mundo. Embora seja uma doença tratável, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para evitar complicações e a propagação da infeção. Nos últimos anos, voltou-se a destacar como a principal causa de morte por doença infeciosa, ultrapassando a COVID-19 em 2023. O número de novos casos tem vindo a aumentar, atingindo um recorde de 8,2 milhões de diagnósticos em 2023, o maior desde o início da monitorização global.

O que é?

A tuberculose é uma doença infeciosa grave causada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis, também conhecido como bacilo de Koch, que pode afetar vários órgãos do corpo humano, sendo mais comum nos pulmões. Esta doença é transmissível entre pessoas, principalmente por via inalatória, ou seja, quando uma pessoa com a doença tosse, espirra ou fala, expelindo pequenas gotículas que contêm o bacilo. A inalação dessas gotículas pode levar à infeção dos pulmões, onde os bacilos se multiplicam e causam danos na estrutura pulmonar. Embora seja uma condição séria, pode ser tratada e curada, especialmente quando diagnosticada precocemente e tratada adequadamente com medicamentos específicos.

Esta doença pode manifestar-se de várias formas, dependendo do local onde o bacilo se propaga e afeta o corpo. As principais formas são:

Tuberculose pulmonar

A forma mais comum, ocorre quando os pulmões são os principais órgãos afetados pela infeção. O bacilo de Koch é transmitido, principalmente, por via aérea, através da inalação de gotículas expelidas por uma pessoa doente. Nos pulmões, o bacilo pode causar inflamação, que resulta em sintomas típicos como tosse persistente, febre, suores noturnos e perda de peso. A tuberculose pulmonar é tratável com medicamentos, mas o tratamento deve ser rigoroso e prolongado.

Tuberculose extrapulmonar

Embora os pulmões sejam o local mais comum de infeção, o bacilo pode espalhar-se para outras partes do corpo através da corrente sanguínea. Este tipo pode afetar diversos órgãos, como os gânglios linfáticos, a pleura (membrana que envolve os pulmões), as meninges (membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal), o pericárdio (membrana que envolve o coração), ossos, rins, fígado, intestinos, pele e outros órgãos. A tuberculose extrapulmonar é menos comum, mas pode ser igualmente grave, e os sintomas dependem da localização do bacilo no corpo.

Tuberculose disseminada (ou miliar)

Esta forma ocorre quando os bacilos se espalham através da corrente sanguínea, afetando múltiplos órgãos ao mesmo tempo. É uma forma mais rara, mas muito grave, da doença. Os sintomas podem ser mais generalizados e incluem febre alta, suores intensos, fraqueza, perda de peso e, em alguns casos, pode levar a complicações fatais. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são cruciais para evitar danos irreversíveis e salvar vidas.

Sintomas da tuberculose

Os sintomas podem variar conforme a forma da doença e a parte do corpo afetada, sendo que os mais comuns incluem:

  • Tosse persistente: Uma tosse que dura mais de 2 a 3 semanas, frequentemente associada a secreção, que pode ser amarelada, esverdeada ou até conter sangue.
  • Cansaço excessivo: Sentir fadiga, mesmo após descanso, é um sintoma frequente da doença.
  • Emagrecimento inexplicável: A perda de peso, que pode ser rápida e sem explicação aparente, é um sinal comum, particularmente na forma pulmonar.
  • Suores noturnos: Transpiração excessiva durante a noite, muitas vezes associada a febre.
  • Febrícula vespertina: Aumento da temperatura corporal no final do dia, resultando em febre baixa, mas constante, especialmente à noite.

Quando a tuberculose extrapulmonar ocorre, os sintomas variam conforme o órgão afetado, podendo envolver dor, inchaço ou febre, além de outros sintomas específicos dependendo da área do corpo atingida. Por exemplo, se os gânglios linfáticos estiverem envolvidos, pode haver nódulos visíveis ou palpáveis, enquanto que se os rins estiverem afetados, podem ocorrer dores nas costas ou alterações urinárias.

Nem todos os indivíduos infetados apresentam sintomas. Quando uma pessoa inala os bacilos, estes podem-se depositar nos pulmões, mas o curso da doença pode ser diferente para cada pessoa. As possíveis situações incluem:

Eliminação do bacilo pelas defesas naturais

O sistema imunitário pode ser forte o suficiente para combater os bacilos e eliminá-los do corpo, sem que a doença se desenvolva. Nesse caso, a pessoa não apresenta sintomas.

Desenvolvimento da doença (tuberculose ativa)

Se os bacilos conseguem ultrapassar as defesas naturais do corpo e se multiplicam, podem surgir os sintomas típicos, como tosse persistente, febre, suores noturnos e perda de peso. Este é o caso da tuberculose ativa, que requer tratamento médico imediato.

Tuberculose latente

Em algumas pessoas, os bacilos podem permanecer no corpo sem causar sintomas, em um estado conhecido como tuberculose latente. Nesta fase, a pessoa não é contagiosa, mas os bacilos ainda estão presentes no organismo. A tuberculose latente pode não se manifestar por anos, mas existe o risco de evoluir para ativa, especialmente se o sistema imunitário da pessoa enfraquecer com o tempo.

Transmissão da tuberculose

A tuberculose é transmitida principalmente através de gotículas que são expelidas por uma pessoa doente quando respira, tosse, espirra ou fala. Essas gotículas, que contêm os bacilos, ficam suspensas no ar e podem ser inaladas por pessoas próximas. Após a inalação, os bacilos depositam-se nos pulmões, onde se começam a multiplicar e podem causar a infeção. A transmissão ocorre principalmente em ambientes fechados e mal ventilados, onde o risco de inalação dessas gotículas é maior, sendo a transmissão mais frequente em contextos de contacto próximo e prolongado com indivíduos infetados.

No entanto, nem todas as formas são contagiosas. Apenas a tuberculose pulmonar pode ser transmitida de pessoa para pessoa uma vez que, nesta forma da doença, o bacilo é expelido para o ar através da tosse, espirros, fala ou respiração. A pessoa infetada com tuberculose pulmonar pode, assim, transmitir o bacilo a outras pessoas que estejam próximas e inalem essas gotículas.

Por outro lado, a tuberculose extrapulmonar, que afeta órgãos fora dos pulmões, como os gânglios linfáticos, ossos, rins, ou outros sistemas, não é contagiosa. Embora os bacilos possam estar presentes nesses órgãos, não são expelidos no ar, tornando estas formas da doença não transmissíveis. Isto é, as pessoas que têm tuberculose extrapulmonar não transmitem a doença.

Prevenção da tuberculose

Embora não seja possível uma prevenção total, existem várias medidas que podem ser tomadas para reduzir o risco de infeção. Se esteve em contacto com uma pessoa diagnosticada, é fundamental realizar um exame de rastreio o quanto antes. Para isso, deve consultar um profissional de saúde e, dependendo do caso, poderá ser aconselhado a iniciar um tratamento de prevenção para evitar o desenvolvimento da doença.

Para prevenir o contágio, tanto os doentes como as pessoas à sua volta devem adotar algumas medidas de proteção, como:

Uso de máscara

O uso de uma máscara pode ajudar a prevenir a propagação das gotículas expelidas pela pessoa infetada, especialmente em ambientes fechados ou de contacto próximo.

Distanciamento físico e ventilação

Assegurar que o espaço onde a pessoa infetada está é bem ventilado e exposto à luz solar. Os raios ultravioleta têm uma ação destrutiva sobre o bacilo, ajudando a reduzir o risco de transmissão.

Higiene e condições adequadas de vida

Manter uma boa higiene, garantir uma alimentação equilibrada e viver em ambientes adequados pode ajudar a fortalecer o sistema imunitário e prevenir a doença.

Esta doença pode afetar qualquer pessoa, mas as que têm um sistema imunitário comprometido estão em maior risco de a desenvolver. Embora apenas cerca de 10% das pessoas infetadas pelo bacilo desenvolvam o estado de doença, este risco é mais elevado em grupos vulneráveis, como:

  • Crianças pequenas e idosos: Os extremos etários são mais suscetíveis devido ao sistema imunitário ainda em desenvolvimento (no caso das crianças) ou já debilitado (no caso dos idosos).
  • Pessoas com desnutrição: A má alimentação pode enfraquecer o sistema imunitário e aumentar o risco de infeção.
  • Portadores do HIV/SIDA: Pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana têm um maior risco de desenvolver esta doença devido ao comprometimento do sistema imunitário.
  • Pacientes com diabetes: A diabetes enfraquece as defesas do organismo, tornando-o mais vulnerável a infeções, incluindo a tuberculose.
  • Doentes oncológicos: A quimioterapia e outros tratamentos para o cancro podem enfraquecer o sistema imunitário, aumentando a probabilidade de infeção.
  • Pessoas que tomam medicamentos imunossupressores: Medicamentos como os utilizados em quimioterapia ou corticoides podem diminuir a capacidade do corpo de combater infeções.
  • Indivíduos com doenças pulmonares crónicas: Pessoas com condições pulmonares como bronquite crónica ou asma apresentam maior risco.
  • Pessoas em tratamento biológico ou imunossupressor: Tratamentos para doenças autoimunes ou outros problemas de saúde que requeiram medicamentos imunossupressores podem aumentar a suscetibilidade.

Existe uma vacina, BCG (Bacilo Calmette-Guérin), que protege contra as formas mais graves, como a tuberculose miliar e a meningite tuberculosa, especialmente em crianças mais pequenas. No entanto, a política de vacinação em Portugal foi revista em 2016 e, de acordo com as orientações mais recentes, a vacinação com BCG é agora recomendada apenas para crianças que pertençam a grupos de risco, ou seja, aquelas com fatores de risco individuais ou comunitários. A vacinação em massa foi interrompida devido à evolução epidemiológica da doença em Portugal, sendo agora uma medida mais direcionada.

Diagnóstico de tuberculose

Após a infeção pelo Mycobacterium tuberculosis, o período de incubação pode variar, sendo, em média, entre 4 a 12 semanas. Durante este período, o bacilo pode permanecer no organismo sem causar sintomas evidentes, o que torna importante o diagnóstico precoce, especialmente em pessoas com maior risco de exposição.

O diagnóstico é realizado através da identificação laboratorial do Mycobacterium tuberculosis, o bacilo causador da doença, normalmente através da análise da expetoração, mas também de outros produtos biológicos, como urina ou amostras de tecidos, dependendo da forma da doença.

Entre os métodos mais avançados, destaca-se o teste IGRA – Interferon Gamma Release Assay – com o QuantiFERON – TB Gold Plus (QFT-Plus), um teste que avalia a resposta imunológica ao bacilo da tuberculose. Este exame mede a libertação de interferon-gama pelos linfócitos T em resposta a antígenos específicos do Mycobacterium tuberculosis, sendo uma ferramenta essencial para detetar infeções ativas e latentes, especialmente em casos onde a recolha de expetoração não é viável ou quando se pretende evitar resultados positivos falsos associados à vacina BCG.

Este teste é indicado em diversas situações, como na despistagem preventiva de indivíduos imunocomprometidos (por exemplo, pacientes com VIH, em tratamento com anti-TNF, quimioterapia, diálise ou após transplante), na suspeita de tuberculose, no rastreio de grupos de risco elevado e em estudos de contactos. Também é utilizado para apoiar o diagnóstico da infeção ou para excluir a tuberculose, sendo particularmente relevante no contexto da saúde ocupacional.

Adicionalmente, utilizam-se testes de biologia molecular, como a PCR, que permitem uma deteção rápida do bacilo e a identificação de mutações que conferem resistência aos antibióticos de primeira linha, garantindo um tratamento mais direcionado.

Para complementar o diagnóstico, a radiografia ao tórax é frequentemente realizada. Este exame de imagiologia auxilia na deteção de lesões pulmonares típicas desta doença, sendo especialmente útil para avaliar a extensão da doença e em casos onde os testes laboratoriais não fornecem resultados conclusivos.

Tratamento da tuberculose

O tratamento é feito através da administração de medicamentos antibacilares, normalmente por via oral. Estes medicamentos são conhecidos como antibióticos de primeira linha e têm como objetivo eliminar o Mycobacterium tuberculosis, a bactéria causadora da doença.

A duração do tratamento depende da gravidade da doença, podendo variar entre 6 e 24 meses. O médico será o responsável por determinar a duração exata do tratamento, com base na resposta da pessoa à medicação e na evolução clínica da doença. É crucial que o tratamento seja seguido de forma rigorosa durante todo o período indicado, para garantir a erradicação completa da doença e evitar a resistência medicamentosa.

A tuberculose permanece como uma das principais preocupações de saúde pública a nível global, mesmo com os avanços no diagnóstico e tratamento. Embora seja uma doença tratável, a sua deteção precoce continua a ser um fator determinante para a cura e evitar complicações sérias. Quando diagnosticada nas fases iniciais, a tuberculose pode ser controlada eficazmente com o tratamento adequado, reduzindo o risco de transmissão e complicações que podem afetar gravemente os pulmões e outros órgãos.

A deteção atempada da infeção é crucial para interromper a sua progressão e evitar que se torne uma ameaça maior quer para a saúde da pessoa afetada, como para a comunidade em geral. Com o tratamento certo, a tuberculose pode ser completamente erradicada, porém é essencial iniciar o processo o quanto antes. De igual forma, a prevenção também deve ser uma prioridade, uma vez que a doença é transmitida pelo ar, podendo afetar muitas pessoas de uma só vez se não forem tomadas as precauções necessárias.

Exames específicos são fundamentais para um diagnóstico preciso e rápido. O QuantiFERON, por exemplo, é um teste crucial que permite detetar a infeção, seja ela ativa ou latente. Este exame é essencial para identificar aqueles que têm a bactéria da tuberculose presente no organismo, mas ainda não desenvolveram a doença. Outro exame importante é a radiografia ao tórax, que pode revelar sinais de lesões pulmonares típicas, como cicatrizes ou áreas de inflamação, possibilitando a avaliação e/ou confirmação do diagnóstico.

Para quem apresenta sintomas indicativos de tuberculose, como tosse persistente, suores noturnos e febre, ou pertence a grupos de risco, como pessoas com o sistema imunitário comprometido ou com contacto estreito com indivíduos infetados, é imperativo não adiar a realização destes exames. A consulta com um especialista é crucial para garantir um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado, além de um acompanhamento constante, assegurando que a infeção não se desenvolva para formas mais graves da doença.

A colaboração de todos é essencial para prevenir e monitorizar a tuberculose, especialmente nas populações mais vulneráveis. A participação ativa na deteção precoce, o tratamento eficaz e a vigilância contínua contribuem para reduzir a propagação da doença e proteger tanto a saúde individual quanto a coletiva. A informação, o rastreio regular e a educação sobre a doença são ferramentas poderosas na luta contra a tuberculose, ajudando a garantir que o tratamento seja iniciado o mais rapidamente possível.

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